Tuesday 5 August 2014

Poeta Thiago de Mello, 88 anos: “Quero ver a Amazônia na ABL”

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Poeta Thiago de Mello, 88 anos: “Quero ver a Amazônia na ABL”

Thiago de Mello é candidato a pedido do romancista Carlos Heitor Cony
Depois de resistir a vários convites, o poeta amazonense Thiago de Mello decidiu concorrer pela primeira vez, aos 88 anos, a uma vaga na Academia Brasileira de Letras (ABL). Com sete décadas de vida literária, o autor do poema “Os Estatutos do Homem”, traduzido para mais de 30 idiomas, se candidata à cadeira 32, que foi ocupada pelo escritor Ariano Suassuna, e terá como concorrente o jornalista Zuenir Ventura.
Com exclusividade para o Blog da Amazônia, Thiago de Mello aceitou listar os motivos de sua candidatura. Um dos pontos: “Porque quero ver a minha Amazônia fazendo parte da vida da Academia”. Um dos poetas vivos mais populares da língua portuguesa, o amazonense de Barreirinha publicou os livros “Silêncio e Palavra” (1951), “Narciso Cego” (1952), “Vento Geral” (1960), “Faz escuro mas eu canto” (1965), “A canção do amor armado” (1966) e “De uma vez por todas” (1996), entre outros, além da antologia de traduções “Poetas da América de Canto Castelhano”.
Thiago também se notabilizou na resistência à ditadura militar brasileira, ao acolher exilados no Chile (em 1964), renunciar à carreira diplomática e iniciar treinamento de guerrilha. No setor da reforma agrária, participou do governo de Salvador Allende, seu companheiro de inúmeras conversas e confabulações na casa de Pablo Neruda, em Santiago. Suas amizades literárias entrarão num livro de memórias a ser lançado em breve pela editora Global.
Nas andanças latino-americanas, conviveu com Pablo Neruda (tradutor de seus poemas), José Olympio, José Lins do Rego, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Cecília Meireles, Cassiano Ricardo, Guimarães Rosa, Álvaro Lins, Joaquim Cardozo, Mario Benedetti, Gabriel García Márquez, Nicanor Parra, Nicolás Guillén etc. Sempre vestido de branco, estendeu seus diálogos à área da música, aproximando-se de compositores como Villa-Lobos, Tom Jobim, Claudio Santoro, Sérgio Ricardo, Geraldo Vandré, Paulo Moura, Manduka (seu filho), Violeta Parra, Pablo Milanés, Silvio Rodríguez e Pixinguinha, do qual é parceiro na canção “Por que tu te escondes?”. Dois jogadores de futebol são alguns dos amigos de que mais se orgulha: Didi e Nilton Santos.
Este ano, Thiago entregou à Global um livro com poemas inéditos. O romancista e acadêmico Carlos Heitor Cony é um dos principais estimuladores da candidatura. O poema “Os Estatutos do Homem” é dedicado a Cony. Há a expectativa de que sua postulação sensibilize e ganhe força entre os “imortais”.
O amazonense avisou por telefone ao poeta Ferreira Gullar, seu amigo e companheiro de exílio, que jamais concorreria com “um irmão”. Agora, cumprindo o acordo, pretende suceder Ariano Suassuna, a quem considera como um “brasileiro de esplêndido poder criador literário”.
Pablo Neruda e Thiago de Mello em Valparaíso (Chile), janeiro de 1962
Confira as razões “de caboclo” do candidato à ABL Thiago de Mello:
1. Porque venero e sei de memória Machado de Assis (fundador da Casa) desde os meus 9 anos, quando no Grupo Escolar José Paranaguá, de Manaus, a professora dona Aurélia, concluído o Curso Primário, iniciou no quintal da casa dela uma classe de leitura de Machado de Assis. Curso de férias. Dois meses e meio com o Apólogo da Linha e da Agulha. Quinze alunos, voluntários. No final cada um teve de dizer com quem ficava, com a agulha ou com a linha. Ganhou a linha, por 8 a 7. Machado vem comigo a vida inteira. Quando visitei Drummond no Ministério da Educação, disse para ele de memória uma conversa de Pestana com o seu editor de polcas. O Lúcio Costa veio lá da mesa dele para ouvir.
2. Porque a minha candidatura atende ao pedido de vários queridos acadêmicos, alguns já falecidos, Zé Lins (do Rego), Lêdo Ivo e o próprio Austregésilo (de Athayde) presidente, que leu meus poemas quando eu era universitário, na casa de Ana Amélia Carneiro de Mendonça. Lembro bem nossa despedida, último encontro, na porta do hotel em São Paulo. Ele disse: “Meu filho, não abandone a nossa Academia”.
3. Porque sinto muita vontade em suceder o brasileiro de esplêndido poder criador literário (Ariano Suassuna), poeta como ele, estudioso da cultura do povo da minha floresta, um patriota a quem quis tanto bem. Mereci -até publicamente, numa Fliporto, ao final de uma de suas aulas- uma declaração comovedora de respeito e ternura.
4. Pedido do meu romancista e companheiro de vida Carlos Heitor Cony.
5. Razão de caboclo: porque quero ver a minha Amazônia fazendo parte da vida da Academia.
Thiago de Mello”.
Por: Claudio Leal e Altino Machado
Fonte: Blog da Amazônia / Terra Magazine 

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