Monday, 10 March 2014

Elizete Gonçalves - Relato de Pesquisa- Climbap


Começo de conversas

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
Eduardo Galeano

As travessias que fizemos para chegar a Comunidade de São Pedro de Joselândia, distrito de Barão de Melgaço, despertou deslumbramentos pela águas pantaneiras, pela paisagem, pelos pássaros e pelas pessoas. A comunidade pantaneira com seus olhares, falas, sonhos e dificuldades desperta a curiosidade pela sutileza das cheias e vazantes do Pantanal, de gente simples e trabalhadora que vive sua temporalidade de acordo com o caminhar das águas, a terra que se mistura com a água e forma o barro, as bacias.
Nossa ida a comunidade de São Pedro de Joselândia se deu no dia 21 de fevereiro de 2014, logo depois de passarmos um dia (20/02) na Base Avançada de Pesquisa da UFMT em Porto Cercado na Reserva  Particular do Patrimonio Natural RPPN/Sesc Pantanal. Onde realizamos uma expedição de barco pelo rio, para reconhecimento e contemplação das águas pantaneiras e animais, acabamos por visualizar algumas aves, macacos.
A pesquisa realizada pelo GPEA/UFMT, com as pessoas da comunidade possibilitam a expressão da sua cultura, olhares, saberes, pedir ajuda  e esperanças de dias melhores para seus filhos através da pesquisa, das entrevistas, das conversas que interagem entre pesquisadores e sujeitos.
E a Educação Ambiental traz a oportunidade do caminhar pesquisador frente a interação humano-ambiente, da sensibilidade, do empoderamento politico e dos saberes populares com a ciência. De saberes que conectam-se com o saber cientifico quando estes reconhecem similaridades, diferenças e valores.

 Relatos e Vivências na Comunidade de São Pedro de Joselândia

Para saber um pouco mais da comunidade e da Escola, fizemos uma roda de conversas com os alunos do Ensino Médio, por volta de 21 jovens, a dizerem o que entendiam de ser Jovem e Ambiente, e  a relatar suas vivências. No inicio um pouco timidos, realizei dinâmicas de interação com o grupo, primeiro cada um dizia o seu nome e o nome dos colegas que falaram antes dele/dela e os apresentavam. E depois uma dinâmica para deixar o grupo a vontade, e mesmo assim mostravam-se relutantes de expressar suas ideias e sentimentos pela oralidade. Então fomos para a escrita, e conseguiram desenvolver suas ideias e relatar suas vivências.
            Começamos com a chuva de ideias (brainstorming) para conceituar Jovem e Ambiente e vieram ideias, frases, palavras como esta: “ser jovem é ter um corpo bonito”, “ter disposição para fazer as coisas”, “viver bem”, “ter beleza”, “casa”, “natureza”, “verde” e a intenção era que tod@s falassem das suas ideias. A partir da chuva de ideias, começamos com a “Oficina de Futuro” (Brasil, 2012), método utilizado por grupos de jovens que trabalham com a temática “Juventude e Meio Ambiente”, que consiste nas etapas diagnóstica de “árvores dos sonhos”, “pedras no caminho” e o Jornal Mural: viagem ao passado e ao presente; e a construção de um projeto coletivo para a Escola. Como a Escola já tem a Comissão de Qualidade de Vida e Meio Ambiente (Com-vida), não me atei a chegar na construção de um projeto coletivo pelos estudantes presentes, foi mais na intenção de conversar, relatar, conhecer, compreender os sonhos, os dilemas, a história da comunidade pela voz dos jovens.  Geralmente os jovens, não conseguem ter espaços de voz e protagonismo, e os jovens de Joselândia me revelaram que na propria Escola, pouco são ouvidos e pró-ativos nas pendências escolares. A oficina foi um momento aos jovens presentes do Ensino Médio de relatarem sonhos e dificuldades do cotidiano da escola e comunidade. E colocaram caminhos para os sonhos e alavancas para moverem as pedras.
Escritas dos jovens[1] a partir da  pergunta “Quais são os seus sonhos para a Escola e a Comunidade?
*      Meu sonho para a Escola é fazer uma quadra poliesportiva. E para a Comunidade uma praça e um posto de saúde;
*      O meu sonho para a minha Escola é que os alunos ajudem no cuidado da escola e não risquem a parede. E para a comunidade, eu queria um salão de festas, para fazer formaturas, aniversários, etc;
*      Um sonho para a Escola é ter uma quadra de futebol e uma sala de música. O sonho para a Comunidade é ter uma delegacia de Policia, ter um posto de gasolina;
*      O sonho é melhorar os quadros e as salas de aula. Para a Comunidade ficar melhor, precisamos de caminhão de lixo e outros;
*      Meu sonho é ter uma quadra de basquete. Para todos que quiserem jogar e aprender. Seria perfeito para a Comunidade saber que nesta Escola tem uma quadra de basquete para seus filhos jogarem;
*      O meu sonho para a Escola é que reforme e façam uma quadra na Escola. Para a comunidade é que faça um Campo de Aviação melhor, façam uma praça, e antenas de celulares, etc;
*      Na Escola mais estrutura, mais Educação. Queria que tivesse internet total. Torres da vivo, claro e tim etc. Na comunidade precisam de telefone, aqui não tem linha de telefone;
*      Uma quadra de futebol;
*      Bom para a Escola no momento a Reforma. Já para a Comunidade no momento a melhora das estradas;
*      Meu sonho para a minha Escola é que tivesse uma quadra etc. E meu sonho para a Comunidade é ter uma estrada melhor e também uma delegacia etc.;
*      Meu sonho é que na Escola tenha sala de informática para nós aprendermos melhor sobre computadores, e também melhores professores para dar aulas com capacidade de aprendermos melhor. Na Comunidade praças, ruas melhores, antenas de celular, posto de saúde;
*      Meu sonho para a Escola é fazer uma quadra. Na nossa comunidade é ter uma praça e  um Posto de Saúde melhor;
*      Meu sonho é que a Escola tivesse uma piscina, para podermos divertir, tomar banho e fazer um monte de coisas;
*      O meu sonho para a Escola é ter uma quadra para a gente se divertir; E para a Comunidade é ter asfalto para a estrada ficar melhor;
*      Desejo uma quadra para nós os alunos iria ser muito bom, se tivesse uma quadra na escola;
*      O meu sonho para a Escola é uma quadra de futebol. E para a Comunidade precisa de uma estrada segura e asfaltada, para a comunidade chegar na cidade;
*      Uma quadra de futebol para nossa Escola, para ter alguma diversão na Escola;
*      Meus sonhos: uma quadra iria ajudar bastante, por que a gente tem que fazer Educação Fisica no sol, e uma quadra iria ajudar bastante. Para a Comunidade uma praça;
*      Para a Escola eu achava que devia ter uma quadra ajudaria os alunos a ter mais diversão e tranquilidade e eu acho que todos ficariam felizes. E um Hospital decente;
*      Para minha escola eu queria uma quadra, uma sala de informática. Por que aqui na nossa Comunidade não tem nada disso, tem a sala de informática, mas não é suficiente para todos e também falta muita merenda na escola.

E depois perguntei “Quais as pedras no caminho para os nossos sonhos”?

*     O problema que atrapalha é a falta de dinheiro e falta de união;
*     É dinheiro;
*     As pedras no caminho que ficam nos sonhos é a prefeitura e outras pessoas etc.;
*     Bom as pedras no caminho são a falta de mais recursos para a nossa Comunidade e para a Escola. Recursos como: mais profissões na comunidade;
*     O que atrapalha esse sonho é a falta de dinheiro, a falta de união e a falta de um prefeito melhor;
*     As pedras no caminho é que não temos telefone aqui;
*     O que atrapalha é quase tudo, a estrada, os recursos etc.;
*     Na minha opinião a educação tem que melhorar um pouco para que não nos prejudique no futuro. Mas não estou dizendo que está ruim o nosso aprendizado;
*     Eu acho que tem de melhorar muitas coisas como a Educação e muitas outras coisas. Como ter uma faculdade para que os alunos quando terminar os estudos, não precisem ir para Cuiabá fazer faculdade;
*     O problema que atrapalha nós conseguirmos o que queremos é a falta de dinheiro, humanidade, prefeito que preste, estrada. Na escola falta comida, materiais;
*     O que atrapalha é que as condições financeiras são muito poucas;
*     Aqui tem muito pouco de dinheiro, por isso;
*     O problema é que os diretores nunca tem verbas;
*     A economia da Escola que é baixa;
*     Para a quadra na Escola dinheiro e um prefeito que nos ajude, e para a praça dinheiro e prefeito não ajuda;
*     O que atrapalha é a falta de dinheiro da Escola e falta de pessoas qualificadas dirigindo o governo;
*     O que atrapalha é a falta de união, há muita desunião, brigas, ninguém confia em ninguém.

            Em relação a etapa do Jornal Mural- viagem ao passado e presente, os jovens sentiram muitas dificuldades para escrever e falar sobre a História da Comunidade e da Escola, e da própria cultura. Conseguiram esboçar fragmentos como festa de São Pedro, que os primeiros habitantes do  lugar eram os índios, que comiam carne de gado, revirado, que há cheias e seca no pantanal. E terminamos por avaliar a oficina com três perguntas:
*      Que bom!! J
*      Que tal!!!! K
*      Que pena!!!! L
Não sei se por recato, e timidez com a pesquisadora, conseguiram expressar que gostaram da oficina, de poderem falar o que pensam, de mudarem a formação das cadeiras na aula, e das dinâmicas. E quando indaguei do que poderia melhorar na oficina, do que não foi bom, houve apenas silêncios.




Fig. 1 Oficina “Juventude e Ambiente” com alun@s do Ensino Médio da E.E. Maria S. Peixoto Moura.


Considerações Finais

Se os sonhos podem ser traduzidos como vida real, é possível, pois, inverter a ordem e compreender que a vida é também tradução do sonho. (SATO E PASSOS, 2006, p. 20).

A caminhada passageira pela comunidade de São Pedro de Joselândia imprimiu-me olhares pantaneiros, o deslumbramento com as águas pantaneiras e seus seres vivos a incluir os humanos.  A pesquisa do GPEA na comunidade encanta na construção coletiva, na interação e respeito com a comunidade, e promove caminhos sustentavéis que impulsinam os sonhos da comunidade e dos próprios pesquisadores.




[1] Correções ortográficas foram feitas para melhor compreensão dos textos dos jovens. 


Referência Bibliográfica

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Formando Com-vida, Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola : construindo Agenda 21 na escola / Ministério da Educação, Ministério do Meio Ambiente. - 3. ed., rev. e ampl. – Brasília : MEC, Coordenação-Geral de Educação Ambiental, 2012.


SATO, M.; PASSOS, L. A. Pelo prazer fenomenológico de um não-texto. GUIMARÃES, M. (Org.) Caminhos da educação ambiental – da forma à ação. São Paulo: Papirus, 2006.

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