Começo de conversas
A utopia está lá no horizonte. Me
aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o
horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para
que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
Eduardo Galeano
As travessias que fizemos para chegar a Comunidade de São
Pedro de Joselândia, distrito de Barão de Melgaço, despertou deslumbramentos
pela águas pantaneiras, pela paisagem, pelos pássaros e pelas pessoas. A
comunidade pantaneira com seus olhares, falas, sonhos e dificuldades desperta a
curiosidade pela sutileza das cheias e vazantes do Pantanal, de gente simples e
trabalhadora que vive sua temporalidade de acordo com o caminhar das águas, a
terra que se mistura com a água e forma o barro, as bacias.
Nossa ida a comunidade de São Pedro de Joselândia se deu
no dia 21 de fevereiro de 2014, logo depois de passarmos um dia (20/02) na Base
Avançada de Pesquisa da UFMT em Porto Cercado na Reserva Particular do Patrimonio Natural RPPN/Sesc
Pantanal. Onde realizamos uma expedição de barco pelo rio, para reconhecimento
e contemplação das águas pantaneiras e animais, acabamos por visualizar algumas
aves, macacos.
A pesquisa realizada pelo GPEA/UFMT, com as pessoas da
comunidade possibilitam a expressão da sua cultura, olhares, saberes, pedir
ajuda e esperanças de dias melhores para
seus filhos através da pesquisa, das entrevistas, das conversas que interagem
entre pesquisadores e sujeitos.
E a Educação Ambiental traz a oportunidade do caminhar
pesquisador frente a interação humano-ambiente, da sensibilidade, do
empoderamento politico e dos saberes populares com a ciência. De saberes que
conectam-se com o saber cientifico quando estes reconhecem similaridades,
diferenças e valores.
Relatos e Vivências na Comunidade de São Pedro de Joselândia
Para saber um pouco mais da comunidade e da Escola,
fizemos uma roda de conversas com os alunos do Ensino Médio, por volta de 21
jovens, a dizerem o que entendiam de ser Jovem e Ambiente, e a relatar suas vivências. No inicio um pouco
timidos, realizei dinâmicas de interação com o grupo, primeiro cada um dizia o
seu nome e o nome dos colegas que falaram antes dele/dela e os apresentavam. E
depois uma dinâmica para deixar o grupo a vontade, e mesmo assim mostravam-se
relutantes de expressar suas ideias e sentimentos pela oralidade. Então fomos
para a escrita, e conseguiram desenvolver suas ideias e relatar suas vivências.
Começamos com a chuva de ideias (brainstorming) para
conceituar Jovem e Ambiente e vieram ideias, frases, palavras como esta: “ser
jovem é ter um corpo bonito”, “ter disposição para fazer as coisas”, “viver
bem”, “ter beleza”, “casa”, “natureza”, “verde” e a intenção era que tod@s
falassem das suas ideias. A partir da chuva de ideias, começamos com a “Oficina
de Futuro” (Brasil, 2012), método utilizado por grupos de jovens que trabalham
com a temática “Juventude e Meio Ambiente”, que consiste nas etapas diagnóstica
de “árvores dos sonhos”, “pedras no caminho” e o Jornal Mural: viagem ao passado
e ao presente; e a construção de um projeto coletivo para a Escola. Como a
Escola já tem a Comissão de Qualidade de Vida e Meio Ambiente (Com-vida), não
me atei a chegar na construção de um projeto coletivo pelos estudantes
presentes, foi mais na intenção de conversar, relatar, conhecer, compreender os
sonhos, os dilemas, a história da comunidade pela voz dos jovens. Geralmente
os jovens, não conseguem ter espaços de voz e protagonismo, e os jovens de
Joselândia me revelaram que na propria Escola, pouco são ouvidos e pró-ativos
nas pendências escolares. A oficina foi um momento aos jovens presentes do
Ensino Médio de relatarem sonhos e dificuldades do cotidiano da escola e
comunidade. E colocaram caminhos para os sonhos e alavancas para moverem as
pedras.
Escritas dos jovens[1] a
partir da pergunta “Quais são os seus sonhos para a Escola e a Comunidade?




















E depois perguntei “Quais as pedras no caminho para os nossos
sonhos”?

















Em
relação a etapa do Jornal Mural- viagem
ao passado e presente, os jovens sentiram muitas dificuldades para escrever
e falar sobre a História da Comunidade e da Escola, e da própria cultura.
Conseguiram esboçar fragmentos como festa de São Pedro, que os primeiros
habitantes do lugar eram os índios, que
comiam carne de gado, revirado, que há cheias e seca no pantanal. E terminamos
por avaliar a oficina com três perguntas:



Não sei se por recato, e timidez com a pesquisadora,
conseguiram expressar que gostaram da oficina, de poderem falar o que pensam,
de mudarem a formação das cadeiras na aula, e das dinâmicas. E quando indaguei
do que poderia melhorar na oficina, do que não foi bom, houve apenas silêncios.
Fig. 1 Oficina
“Juventude e Ambiente” com alun@s do Ensino Médio da E.E. Maria S. Peixoto
Moura.
Considerações Finais
Se os sonhos podem ser traduzidos como vida real, é
possível, pois, inverter a ordem e compreender que a vida é também tradução do
sonho. (SATO E PASSOS, 2006, p. 20).
A caminhada passageira pela comunidade de São Pedro de
Joselândia imprimiu-me olhares pantaneiros, o deslumbramento com as águas
pantaneiras e seus seres vivos a incluir os humanos. A pesquisa do GPEA na comunidade encanta na
construção coletiva, na interação e respeito com a comunidade, e promove
caminhos sustentavéis que impulsinam os sonhos da comunidade e dos próprios
pesquisadores.
[1] Correções ortográficas foram feitas para
melhor compreensão dos textos dos jovens.
Referência Bibliográfica
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Formando
Com-vida, Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola : construindo
Agenda 21 na escola / Ministério da Educação, Ministério do Meio Ambiente. -
3. ed., rev. e ampl. – Brasília : MEC, Coordenação-Geral de Educação Ambiental,
2012.
SATO, M.; PASSOS, L.
A. Pelo prazer fenomenológico de um não-texto. GUIMARÃES, M. (Org.)
Caminhos da educação ambiental – da forma à ação. São Paulo: Papirus, 2006.
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