Wednesday, 28 May 2014

De braços cruzados: empresas alimentícias devem combater mudanças climáticas

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De braços cruzados: empresas alimentícias devem combater mudanças climáticas

Natasha Pitts
Adital

Foto: Oxfam
Muito se fala sobre as emissões de gases do efeito estufa produzidas pelos países, mas pouco ou nada se diz sobre as emissões oriundas das grandes empresas. Nesse sentido, após 18 meses de investigações, a organização Oxfam internacional publicou um relatório mostrando os prejuízos ambientais causados pelas 10 maiores empresas alimentícias do mundo. O relatório "De braços cruzados” foi realizado no marco da campanha "Por trás das marcas”.
Associated British Foods, Coca-Cola, Danone, General Mills, Kellogg's, Mars, Mondelez International, Nestlé, PepsiCo e Unilever são hoje as gigantes do ramo alimentício e de bebidas. Juntas jogam anualmente na camada de ozônio 263,7 milhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa. De acordo com a Oxfam, se essas empresas fossem um país seria o 25º mais contaminante do mundo.
O relatório aponta que o sistema alimentar é responsável por 25% das emissões de gases causadores do efeito estufa no mundo e estas aumentam à medida em que a demanda por alimentos também cresce. Especialistas consultados pela Oxfam apontam que, se o mundo pretende respeitar o "limite de aquecimento de segurança”, que é de 2º C até o ano de 2050, as emissões oriundas das atividades agrícolas e florestais devem chegar a zero, o quem tem se mostrado difícil.
Apesar dessa situação e de terem suas atividades prejudicadas pelas atuais mudanças climáticas, poucas empresas têm demonstrado disposição para agir. De acordo com a Oxfam, o ideal seria que as 10 empresas reduzissem suas emissões combinadas em 80 milhões de toneladas até 2020. Isto seria o mesmo que retirar de circulação todos os carros de Los Angeles, Pequim, Londres e Nova York.
Metade do total de emissões é gerada pela produção de materiais agrícolas na cadeia de abastecimento. Apesar disso, os objetivos de redução já fixados por algumas empresas não incluem essas emissões. Para a Oxfam, as empresas estão sendo especialmente negligentes em relação a emissões agrícolas, por isso destaca que, "salvo algumas exceções notáveis, as 10 grandes estão sendo cúmplices silenciosas da atual crise climática”.
O relatório aponta que Unilever, Coca-Cola e Nestlé têm sido mais assertivas em suas políticas e medidas para lutar contra as mudanças climáticas, apesar de que ainda precisam melhorar. A Pepsico do Reino Unido se comprometeu em reduzir as emissões em suas cadeias de abastecimento em cerca de 50% em cinco anos.
Por outro lado, Kellogg's e General Mills são taxadas como as piores empresas. Ambas são muito vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas e estão bem posicionadas no mercado, fatos que poderiam fazê-las liderarem o setor alimentício na busca por práticas mais responsáveis. O pedido da Oxfam é que as empresas possam tornar públicos seus dados sobre emissões agrícolas, os nomes de seus fornecedores mais contaminantes, estabelecer objetivos de redução de emissões para suas cadeias de abastecimento e fazer um chamado a empresas e governos para se unirem na luta contra a crise climática.
A ação das "10 grandes” pode acarretar uma gama de benefícios para vários setores. Com um trabalho mais incisivo de combate às mudanças climáticas as empresas teriam menos prejuízos econômicos. A Unilever perde 415 milhões de dólares todos os anos e a General Mills perdeu, apenas no primeiro trimestre de 2014, 62 dias de produção devido à piora nas condições climáticas. Além de reverter esses prejuízos, as multinacionais poderiam ajudar a manter as reservas de alimentos que, quando degradadas, provocam aumento de preços, fome e pobreza. Estima-se que até 2050, mais 50 milhões de pessoas enfrentarão a fome por causa das mudanças climáticas.
"Muitos dos gigantes do setor da alimentação e bebidas simplesmente cruzam os dedos esperando que as mudanças climáticas não afetem o sistema alimentar e que outros solucionem o problema. As 10 grandes geram mais de 1 bilhão de dólares a cada dia e têm um grande poder para influenciar as cadeias agroalimentares globais. A indústria deve fazer muito mais para conseguir erradicar a fome no mundo ao transformar seus métodos de produção”, pede a diretora executiva da Oxfam, Winnie Byanyima.

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